O frio dói. Até a pele, algo ressecada, pálida e
desassossegada já sinaliza isso. A lâmina de vento frio corta até
a alma.
Definitivamente, meu caro, no frio eu não sou eu. Vamos,
páre de esfregar as mãos, e por favor me traga o cachecol ali, esse
mesmo, colorido de sol. Você sabe como no frio eu posso ir
do tédio à tristeza, e desta à desolação ou à raiva. Então não
fique aí parado, homem, ainda mais quando o que eu queria, mesmo,
era correr de alegria... não fosse a roupa pesada também
atrapalhar, e a garoinha sem saber se fica ou vai.
Até hoje eu não entendi o porque das pessoas voltarem em
tantos invernos a Campos do Jordão. Ter que dormir assim, com o
aquecedor ligado não é pra mim. Bom mesmo é vinho quente,
queijo e companhia apropriada, e mais eu não digo. Sob a pouca luz
da estação, aproveite pra eliminar os outros fatores e fique só
com a verdade, meu caro “Watson”, antes que eu não páre de
achar a alegria implícita ao verão, à cor da primavera e à poesia
do outono.
Cissa de Oliveira