sexta-feira, 3 de junho de 2011

Campinas, berço de fraudes

Nassim pode?


Cissa de Oliveira


Quanto mais eu leio sobre o escândalo da Prefeitura de Campinas, mais surpresa eu fico. Infelizmente temos presenciado cada vez mais a nossa política se transformar em caso de polícia, ou seria de guerra? Guerra do ganha-perde. Eles ganham, o povo perde. Já dizia Bertold Brecht, a guerra destrói os fracos; mas a paz faz o mesmo. Campinas parecia em paz. E agora, onde o equilíbrio?

A primeira dama de Campinas, Rosely Nassim Jorge Santos, foi acusada de ser a chefe do “esquema”, e aí é que eu comprovo o sentido da segunda parte da frase de Brecht. Para se livrar da prisão a primeira dama “saiu na frente” e conseguiu um habeas corpus. É sabido que essa manobra a livrou, juntamente com o prefeito, de ser presa com outros “operadores” suspeitos de articularem para atapalhar ações do Grupo de Combate Especial ao Crime Organizado (Gaeco).

A Sanasa de Campinas foi apontada pela promotoria como berço de fraudes disseminadas por todo o país. Isso, mais do que escandaloso, é triste, ainda mais no momento da descoberta. No ano passado teriam fraudado licitações de 11 prefeituras, e no governo de Tocantins. Passadas as prisões, a primeira dama reapareceu na cena, apresentando-se ao Gaeco. Teoricamente estaria colaborando com as investigações, muito embora tenha permanecido em silêncio diante de 41 questionamentos.
A primeira dama de Campinas: siêncio diante de 41 questionamentos.

Tivesse essa primeira dama de Campinas lido o poema “Os estatutos do Homem”*, saberia que no seu Artigo V está descrito: “... nunca mais será preciso usar a couraça do silêncio/ nem a armadura de palavras./ O homem se sentará à mesa / com seu olhar limpo / porque a verdade passará a ser servida / antes da sobremesa...”. E assim, como nomear o que aconteceu? Dissimulação, encenação, cinismo, abuso de poder? E mais, Nassim pode? Seja lá o que for, nessa mesma ocasião a primeira dama pediu exoneração.

O prefeito imediatamente classificou o pedido de exoneração da mulher como uma atitude de desapego. A essa altura resta perguntar, como é que a gente ri, num texto? Mas tem que ser riso do histérico, que essa coisa toda tomou contornos de loucura, ou seria de circo? As cadeiras estão empoeiradas. Há crostas e crostas de poeira, poeira da grossa, Dr. Hélio, grudenta, dessas onde se grudam germes de todos os tipos e poder de malefício. O risco de infecção generalizada já foi detectado, e você, prefeito, se mostrou uma decepção para todos aqueles que o elegeram.

Prefeito, nassim num podia, e você bem sabia...

Cissa de Oliveira

*Os Estatutos do Homem. Um poema de Thiago de Mello.

Um comentário:

  1. Olá, Cissa!
    É bom entrar na Casa de Pano e repôr o que perco durante os meus afastamentos...

    Refiro-me aos posts anteriores, porque este, fala de patifaria política, apanágio dessa detestável classe.

    ResponderExcluir