domingo, 1 de maio de 2011

Um café no dia do trabalho

Operários (1933). Óleo sobre tela, 150 X 230 cm.Reprodução de obra de Tarsila do Amaral.

O Dia do Trabalho é comemorado em 1º de maio. No Brasil e em vários países do mundo é um feriado nacional, dedicado a festas, manifestações, passeatas, exposições e eventos reivindicatórios.

Foram dias marcantes na história da luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho. Para homenagear aqueles que morreram em conflitos, a Segunda Internacional Socialista, ocorrida na capital francesa em 20 de junho de 1889, criou o Dia Mundial do Trabalho, que seria comemorado em 1º de maio de cada ano. Aqui no Brasil existem relatos de que a data é comemorada desde o ano de 1895, porém, foi somente em setembro de 1925 que esta data tornou-se oficial, após a criação de um decreto do então presidente Artur Bernardes.
E para comemorar, um poema de Ferreira Gullar:

O AÇÚCAR


Ferreira Gullar

O branco açúcar que adoçará meu café
Nesta manhã de Ipanema
Não foi produzido por mim
Nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
E afável ao paladar
Como beijo de moça, água
Na pele, flor
Que se dissolve na boca. Mas este açúcar
Não foi feito por mim.

Este açúcar veio
Da mercearia da esquina e
Tampouco o fez o Oliveira,
Dono da mercearia.
Este açúcar veio
De uma usina de açúcar em Pernambuco
Ou no Estado do Rio
E tampouco o fez o dono da usina.

Este açúcar era cana
E veio dos canaviais extensos
Que não nascem por acaso
No regaço do vale.

Em lugares distantes,
Onde não há hospital,
Nem escola, homens que não sabem ler e morrem de fome
Aos 27 anos
Plantaram e colheram a cana
Que viraria açúcar.
Em usinas escuras, homens de vida amarga
E dura
Produziram este açúcar
Branco e puro
Com que adoço meu café esta manhã
Em Ipanema.


Ferreira Gullar/José Ribamar Ferreira (1930). Poeta, crítico de arte, biógrafo, tradutor, memorialista, e ensaísta brasileiro, e um dos fundadores do neoconcretismo. Vasta obra publicada.Indicado para o Prêmio Nobel de Literatura (2002). Ganhador do Prêmio Jabuti (2007). Agraciado com o Prêmio Camões 2010; tendo sido contemplado nesse mesmo ano com o título de Doutor Honoris Causa na Faculdade de Letras da UFRJ.

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