segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mais pão, menos canhão



Sei lá porque me deu vontade de escrever sobre isso agora. No auge da ditadura militar eu era ainda uma menina recém saída de um colégio de freiras; sabia nada de nada.

Cissa de Oliveira

"Mais pão, menos canhão" nada mais é do que a reprodução de uma das muitas pichações produzidas por integrantes de movimentos estudantis na época da ditadura.

Mais de vinte anos após o fim do regime militar, continuam as polêmicas com relação ao tema. Deve-se abrir os arquivos da época? Os torturadores da época devem ser punidos? Qual seria a reparação às vítimas? As vítimas e ou seus familiares devem ser indenizadas? O fato é que as opiniões são distintas com relação à responsabilidade do Estado, seus agentes e crimes, além da legitimidade das investigações.

A ditadura militar se encerrou efetivamente com a posse de José Sarney na presidência, em 1985, porque até então andava-se às voltas com problemas criados naquela fase da História. Mas qual é a origem desses problemas? Após o golpe que implantou a ditadura em 1964, parte da “esquerda” usou a luta armada contra o regime. Contra essa luta houve ação repressiva oficial, que também ia contra os movimentos sindical, estudantil e popular, com prisões arbitrárias, torturas e morte de pessoas capturadas por integrantes do Estado.

Em 1979, período final do regime, uma lei intitulada Lei da Anistia, retirou as acusações contra os militantes da esquerda. Mas a Lei da Anistia não fazia referências aos agentes do Estado que torturaram e mataram pessoas em seu poder. E em 1979, os militares lá reconheciam como crimes o ocorrido nos cárceres do regime? Por isso essas questões importantes permanecem em aberto, reaparecendo a polêmica de tempos em tempos.

Parentes de vítimas ainda tentam uma reparação. Qualquer um no lugar deles faria isso! Os governos de até então não resolveram o problema, e enquanto os arquivos da ditadura não forem abertos será impossível apurar com exatidão muito do que aconteceu nos idos da ditadura.

Movimentos por direitos humanos sempre exigiram a investigação dos crimes, assim como a punição dos torturadores e assassinos integrantes do regime militar. A argumentação é a de que havia “uma guerra” e que a anistia devia valer para todos.

O assombro é que vários acusados continuam em cargos públicos. Por outro lado, mesmo sem julgamentos o Estado assumiu a responsabilidade, e como forma de reparação, indenizou prejudicados pelo regime militar (cerca de pelo regime militar. É pouco! Além disso, essa medida também causou polêmicas, pois muitos entendem que ela beneficiou pessoas que teriam cometido violências e ilegalidades na época, mas outros acham que isso não passa de medida paliativa que apenas dribla a democracia por não exigir investigações e punições a criminosos (militares da época), além de não afastá-los de instituições do Estado.

... aos inocentes, as flores...


Cissa de Oliveira

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