sábado, 3 de março de 2012

Bem pra la de Acolá

Cissa de Oliveira



Acolá, mas podia ser Cotó, Taqui, Abaé, Gavé, Zunin. Que importa o nome de uma cidadezinha que cabe gente, tempo, demora?

As meninas rezavam o terço, entendiam de café, carne, farinha, criação, e ainda inventavam brincadeira de assombração. Ah, tempo bom, andorinha que passa do seu jeito, sem que ninguém lhe ponha reparo ao bater das asas.

Silvinha logo se engraçou dos moços, e de se engraçar, engraçou-se por Manuel Antonio Ferreira Gusmão de Araújo Jacobino – futuro Mané Jucá, aquele que chegou de mudança com a familia, todos com o mesmo caminhão de sobrenomes. Calado. Distante. Cismava? Seria poeta, anunciava a quantos pudesse. Arrr, e essa agora? E poesia é lá coisa de homem m-a ma c-h-o cho macho? Poeta nasce poeta e pronto mas a pressão faz as suas transformações e lá se veio um Mané Jucá emendado, remendado, desamarrado de tudo, solto nas palavras, um cão com as sete pedras prontas para serem disparadas. Peitava bobagens, amarrava o ar, a água, raivava. Se pensar, pensava? Só se feito minhoca, que ninguém já não lhe podia entender o meandro das idéias. Mané Jucá? Mané Jucá mesmava! Mesmava em qualquer lugar, até mesmo na bodega de Acolá.

Entardeceu, e de entardecer, desentardecia. Um a um os outros tinham ido pra casa. Vão! seus carneirinhos de patroa! Receio de Silvinha do Terço, ele, Mané Jucá, ia ter? Ela que se contentasse, que ele era ele, dono do direito de ir ou não. Só tomou rumo quando a bodega fechou.

Os passos pela altura do chão, os olhos rolando entre a estrelaria miudinha, lá em cima, esparramada, esparramada...! e as ruazinhas esvaziadas. Até mesmo em frente à casa da velha Lucinha silenciava. Cadê cadeira? E piar de passarinho? Se benzeu sem nem saber. Súbito, milésimos de um raio de sol visitou o pé direito dele. No esquerdo, um raio de luar. Pressentiu. Que diabo era aquilo? E de não haver tempo pra pensar, o poeta decidiu antes do homem. Impulsionou o pé esquedo e se foi, poetisar, bem pra lá de Acolá.

Cissa de Oliveira

2 comentários:

  1. Cissa, adorei seu blog. Gostaria de usar essa foto para uma poesia minha.
    Meu blog de poesias: www.simplesmente-poesias.blogspot.com.br

    Meu email- pedroramalho50@gmail.com ou pedroramalho1950@gmail.com


    Beijos, Pedro Ramalho. Estou no facebook Pedro Ramalho.

    ResponderExcluir