sábado, 3 de setembro de 2011

Poema XXIII

Mauro Veras

És tão suave
que cabes num grão,
num voo de ave solitária,
na brisa que refresca a visão
embaçada por dias, noites e cidades.

És tão suave
que saltas da bruma
que se quebra nas praias
e reacende os olhos que ousam
buscar na brisa a alegria das verdades.

És tão suave
que tocá-la é loucura ...
é como desejar a jóia rara,
a beleza amparada na candura
de toda suavidade. Tu és a vida desejada!

És tão suave
que tens a ternura
que dói quieta nos amantes,
que queima o ventre na aurora do torpor
que aflora dos toques, dos beijos, dos mágicos instantes.

És tão suave
que vais ao vento
que move os cabelos e as saias
do tempo, e retornas sempre neste sonho sem fim,
pois nada é mais singelo que tu, nem a mínima pétala do jasmim.

És tão suave
que te recebo inteira,
num movimento que se espraia
dentro de mim. E assim, como se ao recebê-la
minha alma sedenta do belo pudesse eternamente tocá-la, enfim.


MAURO VERAS, do livro O chantili com porcelana e a distância dela (obra literária sob registro ISBN 87-7325, CDO – 027.0, Ed. Sette Letras. Poesia Brasileira, previsto para 2012).

Um comentário:

  1. Obrigado, Cissa! Ter um texto meu em seu blog é muito gratificante. Sei da sua enorme sensibilidade artística para criar e recriar através da leitura, e também das pessoas que aqui vêm em busca do lazer e da reflexão que a literatura oferece, e estar aqui, com um poema, repito, é muito bom!

    Muito a agradecer, sempre!

    Mauro Veras

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