sexta-feira, 1 de julho de 2011

E por falar em Hitchcock


É meio Hitchcockiano. Se o leitor me conhecer pouquinha coisa, me enxerga no texto e pronto. Por mais que eu não queira. Questão de estilo? Talvez.

Numa folha que cai, silenciosamente, num grito de surpresa, num quebra-cabeça incompleto, num sombreado, enfim, enquanto escritores podemos criar e recriar tantas descrições, nos metamorfosear em versos, imagens, personagens, e ainda assim estar a descoberto.

Vocês estão vendo aquela pessoa ali, arrastando plataforma afora um objeto, tão grande quanto o dobro do próprio tamanho? Sou eu no meu texto. Ao menos até que dois pares de sapatos – um branco e um preto –, bem focalizados caminhem em direção a um vagão de trem, e definitivamente se apossem da cena. E aquela pessoa ali, sentada na cadeira da Senhora Bates, a mãe do psicopata em “Psicose”, quem é? Eu mesma... Está bem, está bem, é o Hitchcock no próprio filme, mas é como se fosse eu, no meu texto, óbvio. Ou qualquer outro escritor, no texto dele.

No paralelo que eu fiz agora, não há uma comparação verdadeira, apenas uma observação relacionada ao fato de que Hitchcock normalmente aparecia, numa espécie de assinatura imagética, nos filmes que dirigia. A comparação é descabida? Mas eu gosto, e descabido por descabido, o grande homenzinho também o era, ou não? Na cabeça dele, a cena vinha antes do texto e pronto! É um gostoso exercício de imaginação supor que Hitchcock tenha feito isto propositalmente, apenas para se colocar exatamente onde todo autor se coloca, mesmo que inconscientemente: dentro da própria criação.

A personalidade artística do autor está gravada nos seus textos, feito digitais. Mas quando é que cada autor se reveste de determinado estilo? O estilo é questão de talento ou de aperfeiçoamento? As duas coisas? A técnica, somente a técnica, é capaz de moldar e projetar um autor? O que é um bom autor? Aquele que consegue sobreviver do seu trabalho? Aquele que é empossado em academias, ou o quê?

E já que eu falei em Hitchcock, pensem bem antes de responder. Apesar de indicado várias vezes, o grande Hicthcock nunca recebeu um Oscar sequer. Questão de destino? Não sei, mas que isso torna tudo ainda mais Hitchcockiano, lá isso torna.



Alfred Hitchcock (1899-1980)foi um cineasta anglo - americano, considerado o mestre dos filmes de suspense.

Um comentário:

  1. As perguntas deixadas no ar sobre "O que é ser um bom autor" são super pertinentes. Ser laureado por uma academia, trará altíssimo prestígio, mas não garante que o laureado seja "melhor" que um outro prestigioso não laureado.

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